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Autoridades subestimam risco de superbactérias
Data de publicação: 12 de abril de 2013
Quando se fala nos grandes temas da área de saúde dignos de atenção do governo e da sociedade, câncer, enfartes, derrames e aids costumam figurar entre os mais preocupantes. Mas, de acordo com especialistas, há uma área que vem sendo subestimada no mundo inteiro pelas autoridades médicas: as infecções causadas por superbactérias, devido ao uso inadequado de antibióticos. O assunto ganhou destaque no mês passado no Reino Unido, onde o órgão oficial responsável pela saúde classificou os riscos de uma epidemia de infecção como algo tão grave quanto uma epidemia de gripe ou o terrorismo, e afirmou que o governo precisa dar mais atenção ao problema.
No Brasil, de tempos em tempos surgem notícias de infecções por superbactérias nos hospitais. A última foi no Rio Grande do Sul, onde pacientes do Hospital Universitário de Santa Maria contraíram infecção por KPC, uma das mais resistentes e letais. Das oito vítimas, uma faleceu. A que veio a óbito morreu em decorrência de outras doenças, de acordo com a direção do hospital. Mesmo assim, o caso requer atenção. “Há uma necessidade urgente de falar sobre o assunto, pois hoje ele ainda é negligenciado”, alerta a médica infectologista do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), de Curitiba, Viviane Hessel Dias.
A médica, que coordena a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HNSG e preside a Associação Paranaense de Controle de Infecção Hospitalar, diz que a situação é tão grave que já há registros de pessoas que nunca foram internadas e mesmo assim apresentam tais bactérias no organismo. “As bactérias são eliminadas pelas fezes e urinas das pessoas e estão indo para a água, para o meio ambiente. Não estão se espalhando apenas entre as UTIs de hospitais, mas entre a comunidade”, alerta. Ou seja, o problema vai além dos hospitais, embora a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha restringido a venda de antibióticos no país em 2010. Hoje eles só podem ser comprados com receita médica.
Causas
De acordo com a presidente da Associação Nacional de Biosssegurança (Anbio) e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Leila Macedo, uma parte da responsabilidade cabe aos pacientes, que não estão seguindo a recomendação dos médicos. Alguns utilizam o remédio por menos ou mais dias do que o recomendado e não respeitam os intervalos entre uma dose e outra, o que aumenta a resistência das bactérias ao medicamento.
Por outro lado, há um problema estrutural. “O sistema público de saúde está saturado, e o médico, por ter de atender com pressa, às vezes não faz o diagnóstico correto e trata um simples resfriado como uma infecção. Com isso, a pessoa usa antibiótico sem necessidade”.
Faltam investimentos em novos antibióticos
Quase três anos após a Anvisa proibir a venda livre de antibióticos, ainda não há números que comprovem que a comercialização diminuiu. Apesar disso, especialistas afirmam que a medida foi acertada. Por outro lado, será preciso fazer mais, de acordo com a médica infectologista aposentada do Hospital de Clínicas da UFPR Maria Terezinha Carneiro Leão, que foi chefe da Coordenação Nacional de Controle de Infecção Hospitalar do Ministério da Saúde em 1990. “Não temos dados sobre o assunto, não sabemos que tipo de superbactéria há em cada hospital nem quantos têm uma comissão de controle de infecções que funcione”, diz.
O fortalecimento da vigilância epidemiológica é uma das bandeiras da médica, junto com outras ações básicas, como a assepsia dos profissionais e de equipamentos e o isolamento de pacientes infectados e de ambulâncias. Isso porque, se depender da indústria, não será possível contar com a ajuda de novos medicamentos para combater as infecções, de acordo com a Presidente do Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF-PR), Dra. Marisol Dominguez Muro. “As bactérias sofrem mutação muito rapidamente e logo os medicamentos perdem a eficácia. Por isso, não é interessante investir nessa área. Ou seja, se não investirmos no controle, vamos perder a guerra”.
O diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcos Antonio Cyrillo, dá um exemplo preocupante: em 2008, nenhum antibiótico foi lançado pela indústria, e desde 2009 são lançados no máximo dois por ano, enquanto para hipertensão e câncer há centenas de lançamentos e pesquisas. “A indústria gasta cerca de 1 bilhão e mais de dez anos para desenvolver um antibiótico. Se as pessoas usam de forma indiscriminada, em um ano já se cria resistência ao medicamento”. A recomendação é prevenir, pois pode ser que em breve se torne impossível remediar.
Fonte: Jornal Gazeta do Povo